Cuba

Una identità in movimento


Sobre a internacionalização das crenças de raiz angolana. Escravatura e religião

Johnny Kapela


É o ponto de vista bem actualizante defendido pelo americanista Simão Souindoula, durante o importante painel "Migração e Diversidade étnica e cultural" organizado no quadro do vital Encontro Ibero-americano "Agenda Afro descendente nas Américas", que se realizou, recentemente, em Cartagena de Índias, no setentrião da República de Colômbia, sob a conduta da inesperada Ministra niger da Cultura deste Estado, Paula Marcela Moreno Zapata.

Numa notável introdução, feita perante a Moderadora da "Mesa", Doris de la Hoz, Directora dos oportunos-Estudos-Etno Culturais do referido departamento ministerial, o ponderado Pastor afro-colombiano Murillo, director da Política de Gestão das Componentes Étnicas no Ministério do Interior e da Justiça deste Estado bem minado pela velha guerrilha das FARC, o historiador angolano delineou o quadro das actuais tendências universalizantes das expressões religiosas afro-americanas e afro-caribenhas.

Caracterizou, a justo título, o agregado dessas práticas como sincretismos que se cristalizaram graças às fortes similitudes de crenças e de representações entre as diferentes religiões do mundo.

Para ele, a evolução histórica produzira, portanto, com a crescente instalação de centenas de milhares de melano-africanos nas Américas e Caraíbas, convicções religiosas que emprestarão, invariavelmente, na base dos ritos africano, tais como os dos Bantu, diversos elementos litúrgicos, as Igrejas católica e anglicana assim como as numerosas variantes do protestantismo (metodista, baptista, pentecotista) e mesmo, ao hinduísmo e as tradições ameríndias.

Entre os cultos sincréticos que emergirão, no além Atlântico, no seio das comunidades de proveniência de África central e austral, o historiador angolano recordou os cândidos umbanda (do radical proto-bantu, banda (tradi-prático) que evoluíram em ovimbundu e kimbundu, em umbanda ou uanga, e em kikongo, em kimbanda) e candomblé (preto), o temido macumba (umbigo), os inofensivos Terreiros Cruzados, os urbanos Caboclos, o social Batuque, o rural Pagelanca, o mundongo Catimbo e o golfe – guineense Chango (Bem-vindo) no "angolano" Brasil, o Vodou no "congo" Haiti e a Santeria, no "mayombe" Cuba.


Componente bantu

O também antropólogo insistiu sobre vários factos que confirmam, em várias regiões do continente americano e do conjunto insular caribenho, a componente bantu dessas seitas: crença num Ser Supremo, o Zambi ou Kalunga, veneração para Lemba, guarda da fecundidade, o uso do pemba (argila branca), como unção, a utilização de wanga ou uwanga, a existência de Candomble Bantu ou Candomble Angola, animados pelos mbanda ou embanda (mestres de cerimónia), a constituição de grupos de preces Caboclos de Loanda e a evocação toponímica de congo ou de luango.

Souindoula recordou, igualmente, a presença dos mayomberos, mestres que dirigem os cultos santeria, na sua versão Regla Mayombe, o uso de tambores chimbangueles e mbata, as variantes do vodou-singa, do vodou-wangol com as suas subdivisões kanga, bumba, mundongo e mazone.

Esses mayomberos têm os seus feitiços (embo), os seus remédios (bilongo), o seu rito mágico (zarabanda), constituído de kimbisa (espírito), macutos (moeda), kinso (panela), villeumba (guarda de fecundidade) e ganga (tradi-prático).


Proselitismo

O memorialista angolano confirmou que os cultos umbanda, candomblé, vodou e santeria registaram, durante a década de 60, uma forte expansão, consequência do espectacular crescimento da emigração ao nível de países com significativa percentagem populacional negróide, tais como o imenso Brasil (46%), os gémeos Haiti (95%) e a República Dominicana (84%), assim que Cuba, "La Ganga" (62%).

Estes movimentos humanos que resultaram de mudanças políticas, económicas e sociais orientaram-se, naturalmente, para a próspera Argentina, os hospitaleiros Estados Unidos da América e a então receptiva Europa.

O Brasil, um verdadeiro sub-continente, terra de proselitismo por excelência, que tem "o corpo na América e a alma em Angola" jogou um papel determinante na extensão das suas religiões de raiz africana.

Com efeito, elas desbordaram do seu infinito território, que estava efectivamente cheio, legal ou ilegalmente, de "terreiros".

As estatísticas são a este respeito particularmente reveladoras. Havia, na espiritual São Paulo, a bem denominada, mais de 2000 templos candomblé e dez vezes mais de centros umbanda.


Umbanda

Uma das consequências dentro das mais inesperadas desta expansão foi a conversão de milhares de adeptos leucodermes e xantodermes em toda a América ibérica, a América do Norte, mas igualmente, na longínqua Europa.

Simão Souindoula fez notar que a imaculada Argentina não escapou a vaga proselitista "angolana" vinda do vizinho Brasil, a segunda potência niger do mundo, onde os praticantes da umbanda e do candomblé, são descendentes de emigrados italianos e espanhóis de "boa filiação", como pudemos certificar, em Julho do ano passado, durante a presença da Dra. Ana Paula dos Santos, Primeira Dama do nosso pais, nas primeiras actividades relativas ao Congresso da Cultura Afro descendente deste pais do cone sul americano.

O americanista angolano indicou, aos participantes da "Mesa 3" do Encontro de Cartagena de Índias, que há, actualmente, mais de 5000 terreiros afro-brasileiros, só, no "puro" Distrito Federal, Buenos Aires.

Abordando o caso dos Estados Unidos da América, grande bastião das liberdades, o perito angolano afirmou que os cultos afro-americanos e afro-caribenhos tiveram como principal centro de expansão, a "cubana" cidade "santeria" de Miami, na Florida, onde os adeptos deste culto são avaliados, segundo as últimas estimativas a mais de 300 000.

Essas capelinhas beneficiaram, na sua expansão nas terras do sacrificado Pastor Martin Luther King Júnior, de diversas circunstâncias.

Contrariamente as igrejas protestantes afro-americanas, resolutamente militantes, os templos santeria são, como na América ibérica, largamente abertos aos brancos. É, assim que nos bairros periféricos de Nova Iorque, adeptos da umbanda são maioritariamente emigrados leuco-portugueses.

Por outro lado, os lugares de culto são, evidentemente, registados como igrejas e beneficiam pelo facto, da iniciativa exoneração de taxas.

No acolhedor Canadá e nos países da Europa ocidental (Grã Bretanha, França, Holanda), a expansão das crenças sincréticas saídas do traumatizante processo da escravatura foi, sobretudo, obra de emigrados das Antilhas.

Apreciando globalmente esta expansão, o interveniente ao atelier constatou que ela foi decisivamente facilitada, nos últimos anos, pelo extraordinário desenvolvimento da internet onde os websites ligados aos "terreiros" se multiplicaram.

Quanto às motivações que incitam adeptos leucodermes ou asiáticos a se converterem nessas práticas espirituais fundamentalmente africanas, o especialista angolano opinou que esses procuram, em substância, desesperadamente, novos sustentáculos psicológicos fora da implacável cultura materialista euro–americana.

Concluindo a sua intervenção, Souindoula partilhou o seu ponto de vista baseado no facto de que este fenómeno de conversão em religiões sincréticas resulta de uma dinâmica histórica sã, resultado do imparável crescimento de movimentos migratórios e de mobilidade humana constatado entre a América latina, as Caraíbas, o norte do continente americano e a Europa ocidental.

Evolução sã, porque e a da própria tendência para a síntese das diferentes culturas do mundo, processo que se perseguira, e que constituíra, sem dúvida, um dos factores de tolerância e concordância entre as sociedades humanas nesta primeira década de um novo século, que foi marcado por um visível choque de civilizações.





    In "Jornal de Angola", 23/11/2008








Página enviada por
Simao Souindoula
Americanista, C.P. 2313, Luanda (Angola)
(28 de noviembre de 2008)


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